quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Cartas de um suicida

I - Para um amor

Só de pensar em fechar os olhos, dormir, tenho medo. Não tenho mais suportado o escuro, estar a sós comigo mesmo não me faz bem.
Por tanto tempo, a única coisa, e a mais importante, que passava pela minha cabeça era você, era estar com você, ou ao menos, eram as lembranças de quando te tive por perto.
Mas, aquele sorriso que recordo estar estampado em meu rosto, agora me fere profundamente. A saudade desses momentos junto de ti, a saudade de sorrir, a dificuldade em fazê-lo.
Não sei dizer como, mas tudo isso se perdeu num espaço de tempo tão curto. Tenho saudades. Tenho medo.
Como era bom ser criança e brincar de vida de adulto, e sonhar com principes e princesas, o conto dos felizes para sempre... como toda essa magia se esvaiu tão rapidamente?
Eu precisei tanto de você, mas você nunca estava, desejei muito mais que o teu amor, desejei teu carinho, teu colo, ou um simples abraço.
Precisava de ti, de tua presença neste exato momento, no meio desta madrugada fria. Queria me acolher nos teus braços e dormir enquanto você me cantava uma música de ninar, daquelas que a gente ouvia quando pequenos.
Mas você se foi faz tanto tempo e eu não quis deixar sua presença ir junto contigo, hoje eu acordei e vi que ela havia partido, e eu ainda estava aqui, sem motivos, nem vontade pra viver.
A dor as vezes é mais forte do que as poucas lembranças... sempre tive vontade de acabar com ela, nunca tive coragem.
Você me convidou para fugir contigo e me deixou aqui sozinha...
Não restou mais nada que me prendesse à vida.
Não restou mais nada que me fizesse desejá-la.
Não restou nem ao menos a vontade de respirar.
Tive medo, mas agora estou feliz.
Nada mais me prende...
E não haverá mais nada que me faça me sentir mal.

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